Entrevista: Íris de Fátima e Rafael Negrão do Fórum LGBT
Em entrevista para o Espalha Fato, Íris de Fátima (presidente do Fórum LGBT e Rafael Negrão (vice-presidente do Fórum LGBT).
Em seu 7º ano, o evento reuniu, além de curiosos, pessoas de todos os sexos, raças, gênero, número e grau que lutam dia-a-dia por leis que façam cumprir os direitos que cabem àqueles que infelizmente, ainda, ficam à margem da sociedade.
No meio dessas 150 mil pessoas, a equipe do Jornal Espalha Fato encontrou Íris Fátima, presidente do fórum LGBT que luta, também, incansavelmente por esses direitos. E em entrevista exclusiva para o Jornal Espalha Fato, Íris fala sobre tudo que dificultou a organização até o último dia desse lindo evento.
Espalha Fato: Qual foi a maior dificuldade para realizar o evento esse ano, já que é o segundo ano na Avenida Boa Viagem?
Íris Fátima (Presidente do Fórum LGBT): A definição do local. No início, quando conversamos com a prefeitura, incluímos na Agenda Cultural que a concentração seria em frente ao antigo prédio do Hotel Savaroni. E quando faltavam apenas 14 dias para a realização do evento, não houve manifestação alguma por parte da Prefeitura. Eles não davam resposta. Juntamos 5 entidades e fomos juntos falar com o Prefeito. Informamos que divulgamos na imprensa que, já que a prefeitura não se manifestou, um candidato a prefeito iria promover a passeata na avenida. Foi quando o Prefeito nos ofereceu esse local.
Em principio, o movimento queria radicalizar, mas houve uma votação.
E. F.: Entraram em um consenso?
I.F.: Não, voto vencido. Por isso ficou definido esse lugar. Na verdade todo ano é essa questão: a definição do local. Para o nosso movimento, seria interessante estarmos passando no espaço definido anteriormente, porque é onde se concentra o maior número do público LGBT. A Prefeitura retrucou, colocou vários empecilhos, nos disseram que era muito ruim, muito feio, que era velho, que era quente, que tinha muito aqueles “carangueijinhos” que chamamos de “maria farinha”. Resolvemos aceitar, deixamos passar esse ano. Inclusive teve uma audiência na Assembléia Legislativa dia 11, na qual estavam presentes os deputados Maurício Hands e Isaltino Nascimento, em que eles se comprometeram que no próximo ano, o movimento iniciará em frente do antigo Hotel Savaroni. Nossa reivindicação quanto ao local se deve ao fato de que são permitidos que outros movimentos tenham acesso a área nobre da Avenida Boa Viagem. Seja de questões políticas, religiosas e demais. Porque com o nosso movimento seria diferente? Ao final deste evento já estaremos discutindo o novo trajeto para o próximo ano.
E.F.: Então a organização vai começar antes para não haver discussão com esse problema do percurso?
I.F.: Nós começamos a organizar este evento no mês de fevereiro até hoje. Isto é, foram 6 meses de negociação, mas teve essa questão de ano eleitoral, que dificultou muito a discussão com os gestores que andaram sempre ocupados. Tudo virou dificuldade.
E.F.: O Fórum organizou quantas pessoas para executar o evento da forma como estamos vendo?
I.F.: Nós somos 2 entidades no Fórum que organizam esse evento, essa parada é organizada com muita discussão política, porque na verdade, o fórum é uma instituição independente, ela não tem apoio político, nós trabalhamos em parceria com vários movimentos, e poucos empresários, tanto que tivemos uma redução na quantidade de trios, porque os empresários ficaram receosos de não ter visibilidade. Ficou difícil negociar com eles. Marcávamos reunião e eles não iam. Com exceção da empresária da Boate Metrópole, Maria do Céu, que é a nossa grande parceira desse movimento. Ela colocou a propaganda na TV. De início nos forneceu cerca de 10 mil panfletos e 500 cartazes. Ela é uma empresária que está sempre ligada as causas LGBT. No início, quando não tínhamos local definido, apenas a Drag Queen “Tanya Tumulto” teve interesse em colocar um trio na Avenida. Os outros só manifestaram interesse quando o local já estava definido. Infelizmente, já tínhamos fechado com a ADF (grupo que envolve o Corpo da Polícia Militar (PM), Bombeiros e Segurança). Existe um processo muito grande por trás desse evento. Envolve muitos órgãos. Inclusive a Guarda Municipal do Recife e Jaboatão dos Guararapes.
E.F.: Você acabou de falar, que por ser ano de eleição, era de se esperar que o volume de patrocínio de trios iria ser bem maior que o esperado, para que os políticos angariassem simpatias com o público GLBT. O que avalia ter visto, uma redução de trios no momento?
I.F.: Na verdade houve uma redução devido aos poucos interesses no início das negociações. Quando o local já estava definido, apareceram muitos empresários interessados, alguns ícones conseguiram trios de graça, mas a partir desse momento, nós já tínhamos definido com os órgãos de segurança e não tinha como abrir. Os empresários desistiram de financiar os trios, porque não poderiam colocar faixas e nem propaganda de candidatos políticos, apesar de que sabemos que muitos candidatos estarão presentes. O PT queria colocar um trio, mas não seria possível. Mesmo com a prefeitura sendo parceira, teríamos que abrir para os demais candidatos. A parada não tem essa finalidade política. Nós temos a finalidade de conquista. O nosso tema é “Pernambuco sem homofobia: Criminalização já”. Porque isso? Porque queremos provocar o Estado, porque até agora, o Estado não mostrou seu compromisso com o público LGBT. Somos uma bandeira muito forte, de muita luta nesse sentido. E esse tema foi pra provocar o Estado.
E.F.: Com relação à localização, você citou sobre a dificuldade de definir o local junto a Prefeitura. E o público? O público tem aprovado a Avenida Boa Viagem, ou ainda existe uma massa grande de pessoas que ainda diz que a Boa Vista era uma opção melhor?
I.F.: Esse é o segundo ano que estamos na Avenida Boa Viagem. Tivemos uma avaliação muito positiva, porque estamos vendo um público bem diferente do que o da Boa Vista. Na Boa Vista, existiam pessoas que estavam saindo do trabalho. E em Boa Viagem, a pessoas estão vindo para a Parada. Tem idosos, crianças, tem um público bem diferente. Não houve nenhuma violência. As pessoas têm achado melhor esse local, pelo lugar, pelo espaço. Na verdade, aqui podemos dizer que quem vem para a Parada, vem porque quer vir. O público estava acostumado, mas aqui temos a certeza de quem está aqui, é porque quer está. Porque apóia o movimento, e não porque está de passagem. Temos outras opiniões da Parada sem ser apenas do público LGBT.
E.F.: Qual a expectativa de público para este ano?
I.F.: Infelizmente não sabemos. Houve divulgação informando que a concentração da Parada seria em outro lugar. Estamos correndo atrás do prejuízo agora. Esperamos ver um público bastante interessante. Procuramos divulgar na TV e nos Jornais de grande circulação, a alteração do local do percurso.
E.F.: Obrigado pela atenção e boa sorte.
I.F.: Disponha. E aproveitem a festa.
No último dia 14 de setembro, mais de 150 mil pessoas lotaram à beira mar da praia de Boa Viagem, para a passeata mais alegre, e não menos séria, do ano, a Parada da Diversidade.
Em seu 7º ano, o evento reuniu, além de curiosos, pessoas de todos os sexos, raças, gênero, número e grau que lutam dia-a-dia por leis que façam cumprir os direitos que cabem àqueles que infelizmente, ainda, ficam à margem da sociedade.
No meio dessas 150 mil pessoas, a equipe do Jornal Espalha Fato encontrou Íris Fátima, presidente do fórum LGBT que luta, também, incansavelmente por esses direitos. E em entrevista exclusiva para o Jornal Espalha Fato, Íris fala sobre tudo que dificultou a organização até o último dia desse lindo evento.
Espalha Fato: Qual foi a maior dificuldade para realizar o evento esse ano, já que é o segundo ano na Avenida Boa Viagem?
Íris Fátima (Presidente do Fórum LGBT): A definição do local. No início, quando conversamos com a prefeitura, incluímos na Agenda Cultural que a concentração seria em frente ao antigo prédio do Hotel Savaroni. E quando faltavam apenas 14 dias para a realização do evento, não houve manifestação alguma por parte da Prefeitura. Eles não davam resposta. Juntamos 5 entidades e fomos juntos falar com o Prefeito. Informamos que divulgamos na imprensa que, já que a prefeitura não se manifestou, um candidato a prefeito iria promover a passeata na avenida. Foi quando o Prefeito nos ofereceu esse local.
Em principio, o movimento queria radicalizar, mas houve uma votação.
E. F.: Entraram em um consenso?
I.F.: Não, voto vencido. Por isso ficou definido esse lugar. Na verdade todo ano é essa questão: a definição do local. Para o nosso movimento, seria interessante estarmos passando no espaço definido anteriormente, porque é onde se concentra o maior número do público LGBT. A Prefeitura retrucou, colocou vários empecilhos, nos disseram que era muito ruim, muito feio, que era velho, que era quente, que tinha muito aqueles “carangueijinhos” que chamamos de “maria farinha”. Resolvemos aceitar, deixamos passar esse ano. Inclusive teve uma audiência na Assembléia Legislativa dia 11, na qual estavam presentes os deputados Maurício Hands e Isaltino Nascimento, em que eles se comprometeram que no próximo ano, o movimento iniciará em frente do antigo Hotel Savaroni. Nossa reivindicação quanto ao local se deve ao fato de que são permitidos que outros movimentos tenham acesso a área nobre da Avenida Boa Viagem. Seja de questões políticas, religiosas e demais. Porque com o nosso movimento seria diferente? Ao final deste evento já estaremos discutindo o novo trajeto para o próximo ano.
E.F.: Então a organização vai começar antes para não haver discussão com esse problema do percurso?
I.F.: Nós começamos a organizar este evento no mês de fevereiro até hoje. Isto é, foram 6 meses de negociação, mas teve essa questão de ano eleitoral, que dificultou muito a discussão com os gestores que andaram sempre ocupados. Tudo virou dificuldade.
E.F.: O Fórum organizou quantas pessoas para executar o evento da forma como estamos vendo?
I.F.: Nós somos 2 entidades no Fórum que organizam esse evento, essa parada é organizada com muita discussão política, porque na verdade, o fórum é uma instituição independente, ela não tem apoio político, nós trabalhamos em parceria com vários movimentos, e poucos empresários, tanto que tivemos uma redução na quantidade de trios, porque os empresários ficaram receosos de não ter visibilidade. Ficou difícil negociar com eles. Marcávamos reunião e eles não iam. Com exceção da empresária da Boate Metrópole, Maria do Céu, que é a nossa grande parceira desse movimento. Ela colocou a propaganda na TV. De início nos forneceu cerca de 10 mil panfletos e 500 cartazes. Ela é uma empresária que está sempre ligada as causas LGBT. No início, quando não tínhamos local definido, apenas a Drag Queen “Tanya Tumulto” teve interesse em colocar um trio na Avenida. Os outros só manifestaram interesse quando o local já estava definido. Infelizmente, já tínhamos fechado com a ADF (grupo que envolve o Corpo da Polícia Militar (PM), Bombeiros e Segurança). Existe um processo muito grande por trás desse evento. Envolve muitos órgãos. Inclusive a Guarda Municipal do Recife e Jaboatão dos Guararapes.
E.F.: Você acabou de falar, que por ser ano de eleição, era de se esperar que o volume de patrocínio de trios iria ser bem maior que o esperado, para que os políticos angariassem simpatias com o público GLBT. O que avalia ter visto, uma redução de trios no momento?
I.F.: Na verdade houve uma redução devido aos poucos interesses no início das negociações. Quando o local já estava definido, apareceram muitos empresários interessados, alguns ícones conseguiram trios de graça, mas a partir desse momento, nós já tínhamos definido com os órgãos de segurança e não tinha como abrir. Os empresários desistiram de financiar os trios, porque não poderiam colocar faixas e nem propaganda de candidatos políticos, apesar de que sabemos que muitos candidatos estarão presentes. O PT queria colocar um trio, mas não seria possível. Mesmo com a prefeitura sendo parceira, teríamos que abrir para os demais candidatos. A parada não tem essa finalidade política. Nós temos a finalidade de conquista. O nosso tema é “Pernambuco sem homofobia: Criminalização já”. Porque isso? Porque queremos provocar o Estado, porque até agora, o Estado não mostrou seu compromisso com o público LGBT. Somos uma bandeira muito forte, de muita luta nesse sentido. E esse tema foi pra provocar o Estado.
E.F.: Com relação à localização, você citou sobre a dificuldade de definir o local junto a Prefeitura. E o público? O público tem aprovado a Avenida Boa Viagem, ou ainda existe uma massa grande de pessoas que ainda diz que a Boa Vista era uma opção melhor?
I.F.: Esse é o segundo ano que estamos na Avenida Boa Viagem. Tivemos uma avaliação muito positiva, porque estamos vendo um público bem diferente do que o da Boa Vista. Na Boa Vista, existiam pessoas que estavam saindo do trabalho. E em Boa Viagem, a pessoas estão vindo para a Parada. Tem idosos, crianças, tem um público bem diferente. Não houve nenhuma violência. As pessoas têm achado melhor esse local, pelo lugar, pelo espaço. Na verdade, aqui podemos dizer que quem vem para a Parada, vem porque quer vir. O público estava acostumado, mas aqui temos a certeza de quem está aqui, é porque quer está. Porque apóia o movimento, e não porque está de passagem. Temos outras opiniões da Parada sem ser apenas do público LGBT.
E.F.: Qual a expectativa de público para este ano?
I.F.: Infelizmente não sabemos. Houve divulgação informando que a concentração da Parada seria em outro lugar. Estamos correndo atrás do prejuízo agora. Esperamos ver um público bastante interessante. Procuramos divulgar na TV e nos Jornais de grande circulação, a alteração do local do percurso.
E.F.: Obrigado pela atenção e boa sorte.
I.F.: Disponha. E aproveitem a festa.
Entrevista: Marcos Sobral
Edição: Mabel de Lavor e Van Loreto
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